A educação é a porta de entrada para superar obstáculos. A cidade de Duque de Caxias é a segunda do ranking de suicídios de jovens de 15 a 29 anos do estado do Rio de Janeiro, de acordo com o Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção (GEPeSP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O aumento de vítimas, especialmente entre crianças e adolescentes, revela a importância de intensificar uma política de enfrentamento ao problema no ambiente escolar.  Empenhada em abrir caminhos que possam efetivar essa prática preventiva, a Secretaria Municipal de Educação deu um importante passo. Em 2018, assinou um termo de cooperação com o GEPeSP, vinculado ao laboratório de análise da violência da UERJ, para lançar o programa EscolaQPrevine, do Projeto Escola, cuja proposta é formar multiplicadores em prevenção de violência autoprovocada (automutilação, tentativa de suicídio e suicídio consumado) no ambiente escolar, tendo adolescentes, de 12 a 15 anos, como protagonistas do programa. O trabalho ainda identifica e orienta o aluno que vivencia o problema.
A Escola Municipal Roberto Weguelin de Abreu, em Jardim Imbariê, foi selecionada para receber o piloto do programa por ter apresentado maior taxa de adesão da comunidade escolar e registrado os maiores índices de casos de violência autoprovocada. De outubro do ano passado até o final de maio deste ano, quando finaliza a formação na unidade, foram identificados 76 casos em meio aos alunos analisados, sendo 39 tentativas de suicídio, 25 automutilicações e 12 pensamentos suicidas.
De acordo com a secretária Municipal de Educação, Cláudia Viana, os dados são preocupantes e requerem um cuidado especial. Ela elogiou o programa do GEPeSP por servir como base e diretriz para a implementação nas escolas de uma política efetiva e de prevenção ao suicídio e potenciais desencadeadores, como bullying, depressão, drogas, álcool e violência. A SME está realizando palestra, formação para orientadores e roda de conversa com os alunos. O projeto Família Presente, que tem como objetivo a participação efetiva da família na escola, o que, para a secretária, contribui com laços importantes para o desenvolvimento dos alunos. “Infelizmente esses problemas têm sido uma realidade em meio às nossas crianças e adolescentes, e nós devemos estar preparados para enfrentá-los. Por isso, apostamos em parcerias que possam nos dá suporte para um trabalho pedagógico que leve em consideração o contexto de vida de cada aluno e que promovam a interação, o acolhimento e a criação de uma cultura de paz”, enfatizou.
Para a escolha da Roberto Weguelin, foram analisadas outras escolas que se encontram em áreas com maior incidência de assassinatos e tentativas de homicídio, de 2000 a 2015, segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (ISP). A pesquisa do EscolaQPrevine revela que professores, funcionários e alunos de escolas com o entorno marcado pela violência se tornam mais suscetíveis a cometerem um suicídio.
O diretor da unidade piloto, Robson Carvalho, contou que ficou surpreso com o número de adolescentes que declararam ter vivenciado automutilação e tentativas de suicídio em algum momento de suas vidas. “Nunca iria imaginar que isso aconteceria na minha escola. Não tem um perfil definido. Uma aluna, por exemplo, que tira excelentes notas, para minha surpresa, contou estar se automutilando. Esse projeto foi muito bem-vindo, pois os alunos se sentiram à vontade para se expressar. Chamamos os pais para conversar e encaminhamos alguns casos ao CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), que fica ao lado da nossa escola e tem nos dado o suporte. Toda a nossa escola está envolvida no projeto. Professores foram treinados e estão desenvolvendo o conhecimento em sala de aula. O educador não está na sala só para jogar conteúdo, mas também para acolher e ter a sensibilidade de entender o que se passa com o aluno. Não tem como ficar alheio a essa situação”.
O programa EscolaQPrevine é conduzido por profissionais de diversas áreas (sociologia, educação e saúde ) e contou com a participação de psicólogos do Departamento de Educação Básica da SME. “Buscamos compreender dilemas da adolescência e dinamizadas da violência autoprovocada por meio de relatos de alunos voluntários. Eles recebem recursos emocionais e conteúdos técnicos para atuarem como multiplicadores em seu ambiente escolar. A meta é oferecer um conteúdo especializado que permita a escola desenvolver a própria ferramenta de prevenção à violência autoprovocada”, explicou a pesquisadora e coordenadora do GEPeSP, Dayse Miranda.

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