A Secretaria Municipal de Educação de Duque de Caxias, por meio da Coordenadoria de Educação Especial, iniciou um trabalho pioneiro no Estado do Rio de Janeiro voltado especificamente ao atendimento às crianças com síndrome congênita do zika vírus. Graças a uma ação efetiva, foram matriculadas na rede, este ano, 17 alunos com a referida síndrome, de 1 a 5 anos de idade, distribuídos em 15 unidades escolares. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, a tendência é que esse número ainda aumente.

A síndrome congênita do Zika Vírus está relacionada à epidemia que se espalhou em algumas regiões do país, em 2015, quando mulheres grávidas foram infectadas pelo zika e seus bebês desenvolveram a microcefalia e/ou a síndrome congênita. Segundo a coordenadora de Educação Especial da SME, Renata Vogas, a ideia de desenvolver o trabalho com este público alvo surgiu em 2017, quando tomou conhecimento de que em Duque de Caxias havia uma média de 35 casos notificados e mais de 100 em investigação, segundo dados apresentados pelo Ministério da Saúde.
De lá para cá, a Secretaria Municipal de Educação firmou uma parceria com as secretarias municipais de Saúde e de Assistência Social e Direitos Humanos, para identificar os responsáveis dessas crianças, a fim de oferecer ensino especializado para seus filhos. “Por ser uma síndrome nova, especialistas da área de saúde não imaginavam que esses bebês pudessem chegar à idade escolar. Diante disso, surgiu a nossa preocupação para saber onde estavam essas crianças que não se encontravam na escola. Começamos a fazer um levantamento minucioso, inclusive, com visita às residências, mediante cadastros apresentados pelas secretarias de Saúde e Assistência Social e Direitos Humanos. Fizemos reuniões com os professores e rodas de conversa com as famílias sobre a necessidade dessas crianças apresentarem um acompanhamento especializado na escola. Muitos pais não sabiam como agir e ficaram felizes com a nossa iniciativa”, contou a coordenadora.

Diagnosticada com microcefalia, a pequena Yasmin Barbosa da Silva de Andrade, de 1 ano e 11 meses, é um dos exemplos de que a intervenção da SME tem dado certo. Por intermédio das equipes das coordenadorias de Educação Especial e Educação Infantil, ela foi matriculada, no final do ano passado, na Creche e Centro de Atendimento à Infância Caxiense (CCAIC), de Jardim Anhangá, por também apresentar baixo peso. De acordo com a mãe Aline Barbosa da Silva, o quadro da menina evoluiu consideravelmente desde que começaram as atividades na escola. “No início, eu tive receio de deixar a minha filha tantas horas na escola, mas a equipe da educação entrou em contato comigo e me deu confiança para aceitar matriculá-la. Estou muito feliz, pois a adaptação da Yasmin está sendo maravilhosa. Vê-la uniformizada já foi uma emoção muito grande. Ela passou a mastigar melhor os alimentos, abre as mãos, o corpo está durinho e já começou a dar primeiros passinhos com a ajuda da professora. O convívio com outras crianças e o carinho da equipe escolar são fundamentais. Pensei que fosse passar a minha vida dentro de um hospital, mas hoje vejo a minha filha praticamente como uma criança normal. Aprendi também que a gente deve deixar ser ajudado. Isso faz toda a diferença. Sou muito grata por tudo que estão fazendo por mim e por minha filha”.

         “O nosso cuidado é muito especial. Eu ainda envio diariamente para a Aline as fotos das atividades com a Yasmin. Além da professora da Classe Regular, temos uma agente de inclusão que acompanha cada passo”, contou a diretora Elaine Cardoso.

Para aprimorar o trabalho, a Secretaria Municipal de Educação, que possui um termo de cooperação técnica com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFFRJ). Iniciou na quinta-feira (13/02) uma formação continuada, promovida por pesquisadores do Observatório de Educação Especial e Inclusão Educacional (ObEE) da UFRRJ, a convite do Centro de Pesquisa e Formação Continuada Paulo Freire da SME. A formação é direcionada para professores do Ensino Regular e do Atendimento Educacional Especializado, orientadores educacionais e pedagógicos, diretores e agentes de apoio à inclusão das escolas que receberam alunos com a síndrome congênita do zika vírus. A palestra de abertura foi realizada pela coordenadora geral do ObEE, Profª Drª Márcia Pletsch.

A secretária de Educação, Claudia Viana, participou da abertura do encontro e destacou a importância da ação. “Essa formação é a continuidade de um trabalho de excelência que vem sendo desenvolvido pela nossa Educação Especial. Contar com a parceria de renomadas instituições empenhadas em contribuir com a nossa prática desenvolvida em sala de aula é fundamental no processo”, avaliou a secretária.

  Para a especialista Márcia Pletsch, o ensino municipal de Duque de Caxias é referência na Educação Especial.

“Duque de Caxias é o primeiro município que desenvolve esse projeto, que visa a construção de diretrizes intersetoriais para receber essas crianças. É importante ressaltar que a Educação Especial daqui é conhecida por ter excelentes profissionais. O programa a ser desenvolvido tem a duração de três anos e o curso é uma das etapas. A intenção é expandir esse trabalho para toda a Baixada Fluminense”, explicou Pletsch.

A formação também conta com a parceria de pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Puc-Rio, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP) e Instituto Fernandes Filgueira (IFF), da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz).

“O curso faz um levantamento do comportamento dessas crianças no dia a dia escolar, além das atividades que serão implementadas em sala de aula. O trabalho pedagógico é feito mediante a especificidade de cada um”, acrescentou Renata Vogas.

Para a Profª Dra. Maíra Gomes de Souza da Rocha, regente da sala de recursos da Creche Iracy Moreira Theodoro e orientadora pedagógica da Creche e Centro de Atendimento à Infância Caxiense (CCAIC), de Jardim Anhangá, é um privilégio fazer parte do projeto. “São crianças que precisam de suporte o tempo todo e devem estar na escola, que é um direito delas. Estamos nos  preparando para atendê-las da melhor maneira”, destacou.

Jornalista: Mariléa Lopes
Fotógrafo: Glaudson Danubio

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