Apesar dos desafios que tiveram que superar para dar aulas à distância sem perder a qualidade, professores da rede municipal de ensino de Duque de Caxias se destacam e encerram o ano letivo com o sentimento de dever cumprido. Para exemplificar a conduta desses notáveis profissionais, destacamos as professoras Vilma Soares, Rosa Andrade e Denise Osternack.  Elas trabalham com alunos deficientes e são autoras de iniciativas inovadoras. Determinadas, as três se depararam com o desafio que teriam de enfrentar durante a pandemia, não só pela questão do ensino remoto, mas também como os seus alunos iriam se adaptar à nova realidade.

De acordo com a professora Vilma, que leciona numa classe regular da Escola Municipal Carlos Drummond de Andrade, em Imbarê, antes da pandemia, ela já realizava um acompanhamento pedagógico diferenciado com o seu aluno autista, e, durante esse período, não poderia ser diferente. “Foi então que tive a ideia de preparar atividades sensoriais reutilizáveis para a alfabetização dele. O material é concreto e lúdico para que as aulas por vídeochamada se tornassem possíveis”, contou a educadora, que está cursando mestrado em Educação, pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

A professora Vilma leva, mensalmente, as atividades até à casa do aluno 

Para dar seguimento a sua ideia, Vilma não mediu esforços e passou a ir, mensalmente, por conta própria, à casa do aluno Robson Júnior Melo, de 12 anos, para entregar os materiais que ela montou, junto  com  as orientações necessárias para a responsável. Ela acrescenta que as atividades eram entregues de acordo com o  desenvolvimento da criança. “Como se trata de um aluno autista, todas as aulas por vídeo eram realizadas no mesmo horário das aulas presenciais, para que a rotina não fosse interrompida”, explicou.

O resultado? Vilma se enche de orgulho ao dizer: “É o mais positivo possível.  Nesse período foram desenvolvidas novas habilidades e competências que antes não haviam sido adquiridas. É visível o progresso do aluno ao executar as atividades, tanto que montei uma segunda caixa para atender às competências de alfabetização”, comemora.

Vilma destaca que o apoio da mãe do menino, Mariana Melo, foi fundamental para o êxito do trabalho. “Além das atividades, construí, em conjunto com ela, um quadro de rotina diária, com todas as atividades desenvolvidas em casa, contribuindo assim para sua autonomia”.

O projeto da professora Vilma, inclusive, lhe rendeu o Prêmio Alpha Lumen de Criatividade na Educação e o Selo Professor Transformador, promovido pela Base2Edu e Bett Educar. O tema também foi publicado no site Diversa, pelo Instituto Rodrigo Mendes, como iniciativa educacional de impacto positivo na pandemia. Além disso, foi destaque em reportagens do RJTV1 e no Globo Comunidade,  da TV Globo.

Já a professora Rosa Maria Andrade, que atua no Atendimento Educacional Especializado (AEE) da Escola Municipal Visconde de Itaboraí, no Parque Lafaiete, conta que o acesso à tecnologia foi o primeiro entrave.  ”Muitas famílias não têm internet ou um pacote de dados que permitem a visualização, por exemplo, de  vídeos”, exemplificou a educadora, que leciona para  nove alunos com algum tipo de deficiência (autismo, síndrome de Down e síndrome Cornélia de Lange).
O segundo desafio, conforme relata a professora Rosa, era conversar com os alunos a partir de uma ferramenta que apenas seus responsáveis utilizam. “Diante disso, decidi elaborar  jogos pedagógicos feitos com materiais reciclados e  ideias retiradas da internet. Listei os objetivos, confeccionei todo o material e preparei uma sacola para cada aluno usar no seu tempo, no melhor momento. Essas sacolas, inclusive, eram retiradas na escola pelos responsáveis”, explicou.

   Durante um curto espaço de tempo, Rosa produziu dominós de figuras geométricas, pareamento de cores com pregadores e palitos de picolé coloridos, pistas com as letras dos nomes deles, tangram (quebra-cabeça chinês), alfabeto móvel com tampinhas plásticas, entre outras atividades. “Por meio desse material, aspectos emocionais, cognitivos e psicomotores são potencializados a partir do brincar com a família”, avalia a professora, que é pedagoga e mestre em Educação pelo grupo CACE ( Comunicação, Audiovisual, Cultura e Educação) da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Desde então, o progresso dos alunos de Rosa tem sido gratificante. “O que também  me encantou nesse processo foi a parceria com os responsáveis. Eles abraçaram a ideia junto comigo. A cada recebimento de fotos, áudios ou vídeos das crianças, eu tinha certeza de estar contribuindo positivamente”, comemorou.

Graciela Rodrigues, mãe de Cristopher, largou o emprego para se dedicar ao filho

Feliz com o desenvolvimento do filho, Graciela Rodrigues, mãe de Cristopher, de 8 anos, que é autista, conta que a professora Rosa ofereceu todo o suporte para superar esse período. “A minha maior dificuldade no início da pandemia foi tentar explicar para ele que não podíamos ir à escola. Ele acordava, colocava o uniforme, pegava a mochila e ficava chorando para ir. Graças ao apoio da professora, que nos disponibilizou material, além  da comunicação, que era constante, o desenvolvimento dele não foi prejudicado. Pelo contrário, só tem avançado. Nas brincadeiras que eu faço com ele, inclusive, introduzo as atividades da escola”, contou a mãe, toda orgulhosa.

Quem também se reinventou em prol do amor incondicional aos seus alunos foi a professora Denise. Ela, que também realiza um trabalho de referência mesmo antes da pandemia, trabalha na rede desde 1995 e, hoje, atua com nove alunos, no AEE, da Escola Estadual Municipalizada Professora Maria de Araújo da Silva, na Taquara. “Durante a pandemia foi necessário inovar e aos poucos fui observando que precisava melhorar para alcançá-los. Comecei a investir na busca por materiais que pudessem ter mais participação deles. Assim, montamos um material cada vez mais diversificado, que envolvia contação de história, música, atividades formais e lúdicas”, contou Denise, que possui especialização em Educação Especial pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio).

Kauã Ferreira, de 12 anos, durante as aulas online

Quanto ao método utilizado, Denise é categórica ao dizer: “Não existe um método, existe a observação prévia para que se construa um material que seja útil e permita o aluno se sentir parte da escola”.

A participação do aluno Arthur Santos encantou sua mãe

Conforme relata a professora, o retorno não poderia ter sido diferente. “A resposta foi de acordo com a realidade de cada um. Eu gravava aulas diariamente, apresentava o material, por meio de uma rede social, e explicava o que e como fazer. Tive retorno de todos, por meio de fotos, vídeos e até por ligação telefônica. É realmente gratificante. A maior necessidade deles, em sua maioria, é de atenção, amor e paciência. É de alguém que acredite no potencial de cada um”, ressalta Denise, que ainda admite: Sem a ajuda da família, seria impossível o trabalho, ainda mais porque meus alunos não são alfabetizados. A maioria, não fala”, destacou.

Para encerrar o ano, a professora Rosa ainda realizou uma gincana virtual. “Tarefas foram lançadas e, ao final, todos foram contemplados com um certificado de participação para lembrar que também brincamos virtualmente. A medalha serviu para lembrá-los que são campeões nessa vida”, incentivou a dedicada professora.

“Nosso maior objetivo é adequar as necessidades do aluno à essa inesperada realidade e garantir o direito igualitário à aprendizagem”, concluiu Vilma.

De acordo com a coordenadora da Educação Especial, Renata Vogas é fundamental que o talento e a determinação dos professores sejam reconhecidos.  “A equipe da Coordenadoria de Educação Especial reconhece que em tempos tão difíceis os professores da rede Municipal de Ensino de Duque de Caxias, em destaque os da Educação Especial não esmoreceram. Superaram barreiras, expandiram os limites e num esforço singular asseguraram o ensino remoto e mostraram mais uma vez competência e compromisso com a educação dos nossos alunos especiais. De fato, ninguém estava preparado para este momento, mas temos um corpo docente muito comprometido e equipes extremamente envolvidas.  Nossos parabéns a todos os protagonistas e saibam que são motivo de orgulho para toda nossa rede”, enalteceu a coordenadora.

Atividades criadas e produzidas pelas professoras foram
fundamentais no processo

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