Um olhar diferenciado e cuidadoso de uma professora transformou a vida de um aluno surdo e mudou a rotina de uma escola. Ela é Ana Carla Marçal, da Escola Municipal Barão do Amapá, que leciona na Sala de Recursos Multifuncionais, onde faz o AEE (Atendimento Educacional Especializado). Há dois anos, o aluno Samuel Henrique Costa, de 8 anos, foi matriculado na unidade, com diagnóstico de autismo. Mas, durante as aulas, Ana Carla começou a perceber que havia algo diferente no menino. “Quando ele estava de costas, não ouvia quando eu o chamava. Reparei também que o cognitivo dele estava preservado. Foi quando procurei a família para saber se esse comportamento também acontecia em casa e os orientei a procurar outra avaliação médica. Eles seguiram o meu conselho e, para a nossa surpresa, Samuel não é autista, mas sim surdo”, contou a professora, que ainda indicou o Centro Auditivo de Saúde, no Hospital Moacyr do Carmo, para o menino receber o acompanhamento. Lá, Samuel conseguiu um aparelho auditivo, contribuindo e ajudando-o com um nível de audição de 25%.

A partir daí, Ana Carla viu que precisava se adaptar para oferecer ao único aluno surdo da escola, um ambiente acolhedor e propício para o seu aprendizado. Ela intensificou seu estudo em Libras (Língua Brasileira de Sinais) e junto com a dinamizadora de leitura, Claudia Diniz, decidiram, depois do horário das aulas, produzir vídeos, interpretando histórias com sinais e ilustrações, de maneira inclusiva, educativa e atrativa, não só para Samuel, mas para todos os alunos. Além disso, foi iniciada na unidade a alfabetização em Libras para os estudantes de todas as idades e a interação tem sido maravilhosa, avaliou.

“Foi um avanço enorme na vida dele. Antes, ele ficava agoniado, pois era incompreendido e vivia num mundo particular. Hoje, ele está visivelmente feliz, se conhecendo como indivíduo, já que pode se comunicar”, acrescentou a professora Claudia.

E não para por aí. No final de setembro, toda a escola se mobilizou para realizar a culminância do Setembro Azul, que é o mês da conscientização sobre a visibilidade da Comunidade Surda. Direção, orientadoras pedagógicas e professores estavam integrados para promover inúmeras atividades. Foram exibições de vídeos, cartazes e várias ações em sala de aula. Samuel, por sua vez, que está no 3º ano do Ensino Fundamental, foi o protagonista e interagiu com toda a turma, mostrando que a libras é fundamental para o desenvolvimento nos aspectos social e emocional, não apenas do surdo, mas também de todos que fazem parte do seu convívio.

Para a avó do Samuel, Célia Oliveira, de 70 anos, que o cria desde os 2 anos de idade, o sentimento é de gratidão. “Fico muito feliz, pois ele é a razão do meu viver. Hoje em dia o meu neto está normal. Não esperava essa evolução dele. Até eu estou tendo aulas de Libras para saber me comunicar com ele”, comemorou.

About Marilea Lopes